OBRAS DE ASFALTAMENTO EM AFOGADOS DA INGAZEIRA: OPORTUNIDADE OU ESTRATÉGIA ELEITORAL?

OBRAS DE ASFALTAMENTO EM AFOGADOS DA INGAZEIRA: OPORTUNIDADE OU ESTRATÉGIA ELEITORAL?

outubro 23, 2024 0 Por sertao16

Nas últimas semanas que antecederam as eleições municipais, Afogados da Ingazeira testemunhou uma movimentação significativa nas ruas do centro da cidade. Máquinas de asfalto foram vistas trabalhando intensamente, melhorando vias já calçadas com paralelepípedos, que, embora não fossem asfaltadas, apresentavam boas condições de tráfego. Para muitos, essa foi uma ação positiva, demonstrando uma preocupação com a infraestrutura urbana. No entanto, surge uma pergunta: por que concentrar os recursos no centro, onde as ruas já possuíam pavimentação, enquanto bairros e áreas periféricas continuam sem asfalto, calçamento, e em alguns casos, até sem saneamento básico?

A questão se torna ainda mais relevante quando consideramos que as obras de asfaltamento tiveram início durante o período eleitoral e, surpreendentemente, cessaram logo após o término das eleições. Moradores de áreas mais afastadas, onde as condições das ruas são precárias, manifestaram descontentamento, alegando que essas localidades, muitas vezes negligenciadas, continuam à espera de melhorias fundamentais para a qualidade de vida.

Desigualdade na Ação Pública

Enquanto as ruas centrais receberam atenção, as ruas dos bairros mais carentes seguem sem qualquer intervenção, demonstrando uma disparidade no planejamento urbano e na distribuição de recursos. Áreas periféricas, onde o calçamento é inexistente e a falta de infraestrutura básica persiste, não foram incluídas no cronograma dessas obras recentes, levantando a questão da real prioridade na execução de melhorias públicas.

Além disso, a população tem se questionado sobre a oportunidade da realização dessas obras, que começaram em meio à corrida eleitoral. A situação levanta a reflexão sobre o uso da máquina pública em benefício de candidatos que já estão no poder. O asfaltamento, embora bem-vindo, ocorre em um momento estratégico, podendo gerar uma percepção de vantagem para o candidato à reeleição.

A Desigualdade no Cenário Eleitoral

Esse tipo de ação evidencia a disparidade de armas entre candidatos. Enquanto aqueles que ocupam cargos no executivo municipal têm à disposição os recursos e a visibilidade conferida pelas obras públicas, candidatos de oposição não contam com o mesmo privilégio. Tal cenário dificulta um equilíbrio justo entre os concorrentes, tornando a disputa eleitoral assimétrica.

O uso da máquina pública durante as campanhas eleitorais é um tema delicado e que precisa ser debatido de maneira consciente e madura. O asfaltamento de ruas no centro da cidade, ainda que necessário, pode levantar dúvidas sobre a real motivação de sua execução em um período tão específico. Não se pode ignorar que o poder público tem a responsabilidade de atender a todas as áreas do município, garantindo que o benefício das obras seja distribuído de forma equitativa, especialmente onde as condições são mais críticas.

Repensar a Norma Eleitoral

Diante desses fatos, é imperativo refletirmos sobre a necessidade de revisar as regras que regulam o uso de recursos públicos durante o período eleitoral. A atual legislação busca impedir que ações governamentais sejam utilizadas como ferramentas para influenciar o eleitorado, mas será que as normas são suficientes para garantir uma disputa justa? É necessário questionar se o calendário de obras públicas, muitas vezes coincidente com o período eleitoral, não acaba por favorecer quem já está no poder.

A questão não é apenas de execução de obras, mas sim de como elas são usadas para criar uma imagem positiva no momento em que mais se precisa do apoio popular. A política deve ser um espaço de igualdade de oportunidades, onde cada candidato, seja ele situação ou oposição, tenha as mesmas condições de apresentar suas propostas e conquistar a confiança do eleitor.

O Futuro do Debate Público

Enquanto os moradores das periferias de Afogados da Ingazeira aguardam pela chegada de melhorias essenciais, como saneamento e pavimentação, o centro da cidade já reformado permanece com as suas ruas devidamente asfaltadas. É fundamental que o debate sobre a equidade na execução de obras públicas e a ética no uso da máquina pública seja levado a sério, para que Afogados da Ingazeira, e outras cidades como ela, possam garantir que as decisões administrativas beneficiem a todos de forma justa e transparente, independentemente de períodos eleitorais.

Esse momento nos oferece uma oportunidade para repensar o futuro do planejamento urbano e da gestão pública, buscando soluções que efetivamente reduzam as desigualdades entre os bairros e melhorem a qualidade de vida de toda a população, de forma igualitária e contínua.