Marília Mendonça: Entenda o que falta esclarecer no acidente que matou a cantora
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), apresentou, na noite desta segunda-feira (15), o resultado da investigação sobre o acidente aéreo que matou a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas.
Mais cedo, Robson Cunha, advogado da família de Marília Mendonça, disse em entrevista coletiva que o documento apontava que “as decisões do piloto não foram irregulares”, embora o relatório incluísse “uma avaliação inadequada” pelo piloto no momento da aproximação para pouso entre os “fatores contribuintes” para o acidente.
Mesmo com a divulgação do relatório, alguns pontos ainda seguem inconclusivos. Confira quais são:
No dia 5 de novembro de 2021, a aeronave de matrícula PT-ONJ caiu no município de Piedade de Caratinga após colidir com um cabo da Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig), conforme revelado pelo GLOBO. Todas as cinco pessoas dentro do bimotor morreram. Além de Marília, o avião levava o produtor Henrique Bahia, o assessor Abicieli Silveira e os pilotos Geraldo Martins de Medeiros e Tarciso Pessoa Viana.
Houve responsabilidade dos pilotos?
Mais cedo, o representante da família da cantora afirmou, após receber o relatório, que “ainda que o plano de voo tenha sido alterado, todas as medidas tomadas pelo piloto foram consideradas dentro da normalidade”. À noite, quando o relatório foi tornado público, há uma citação à avaliação inadequada no momento do pouso, “uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’”. Entre as conclusões, o documento destaca o “julgamento de pilotagem” como fator que pode ter contribuído com o acidente. Outros fatores relacionados ao pouso foram considerados indeterminados: “Memória” e “Planejamento de voo”.
Por que a opção pela manobra no momento do pouso?
Outro trecho do relatório informa que a Comissão de Investigação buscou inferir razões do procedimento no pouso, “a despeito de não haver quaisquer limitações operacionais da aeronave ou de tráfego aéreo que restringissem o alongamento da perna do vento”. Uma hipótese levantada é que o piloto “pode ter optado por alongar a perna do vento a fim de buscar uma aproximação final mais longa, a qual tende a ser mais confortável para os passageiros”. Outra possibilidade levantada é a de a decisão ter sido tomada devido “a um processo inconsciente gerado pelas experiências das aproximações realizadas durante um longo período no qual o PIC (Piloto em Comando) operou na Aviação Regular”
Sinalização teria evitado o acidente?
O advogado da família da cantora também havia destacado a falta de sinalização das nos cabos de energia foi um fator preponderante para o acidente. O relatório, apesar de apontar que “a linha de transmissão de 69 kV não se enquadrava nos requisitos que a qualificassem como um obstáculo ou objeto passível de ser sinalizado”, destaca que “o cabo para-raios da linha de transmissão de 69 kV possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo”. Entre as recomendações do relatório está “realizar gestões junto à Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (CEMIG), de modo a sinalizar, em caráter excepcional, a linha de transmissão de 69 kV no trecho correspondente ao prolongamento da pista 02 de SNCT”.
- Agora, o que veremos na esfera criminal é se esses cabos da Cemig deveriam ou não estarem identificados – disse Robson Cunha.
A partir do acidente, foi elaborado o O PL 4.009/2021, chamado Projeto de Lei Marília Mendonça, de autoria do Senador Telmário Mota (PROS/RR), que estabelece que as concessionárias de energia devem sinalizar as linhas com o uso de esferas coloridas e que as torres também devem ser pintadas, de modo a alertar a pilotos o risco de colisão. O PL foi aprovado no Senado e aguarda votação na Câmara dos Deputados.
Como fica a questão criminal
O relatório do Cenipa não aponta culpados, apenas detalha os elementos relacionados ao acidente. No ano passado, a Polícia Civil já havia adiantado que a conclusão sobre as causas do acidente ficaria vinculada ao relatório do Cenipa, já que seria necessário descartar falha mecânica no momento do acidente.
- A polícia civil ainda não concluiu inquérito e houve um pedido para aumentar o prazo por parte da polícia de Caratinga. Peço apenas que haja celeridade na entrega do inquérito – disse o advogado Robson Cunha em entrevista coletiva.
Imagens vazadas
Outra dúvida é em relação vazamento das fotos da necropsia da cantora. O suspeito de vazar as imagens já está preso. Mas ainda não se sabe se é a mesma pessoa que captou as imagens. Além dele, outras pessoas foram indiciadas por prática criminosa de divulgação desse material.
- Existe um inquérito na Polícia Civil que está tratando desse conteúdo – disse Cunha
Da Agência O Globo