“Espero que a justiça seja feita”, diz passista que perdeu braço ao se internar para operar mioma
A cabeleireira e passista da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos, que teve parte do braço esquerdo amputada e o útero retirado após se internar para operar um mioma, retornou ao Hospital Municipal Souza Aguiar, na tarde desta terça-feira (25), para uma consulta de revisão de outro procedimento, realizado na barriga.
A paciente acusa o Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde foi submetida a uma primeira cirurgia, para a retirada do mioma, de erro médico. Após complicações no pós-operatório ela foi transferida para o Instituto de Cardiologia Aloísio de Castro, em Laranjeiras, onde teve o membro superior amputado.
Depois, ainda foi levada para o Souza Aguiar onde permaneceu por um mês, de 4 de março a 4 de abril, para tratar de uma infecção na barriga, segundo ela, resultado o primeiro atendimento no hospital da Baixada.
— Vim fazer revisão (do procedimento na barriga). Graças a Deus agora está tudo bem, mas tem sido tudo muito difícil. Só espero que a justiça seja feita — disse Alessandra.
Ao ser informada de que o médico que a atendeu no Hospital da Mulher negou que tenha cometido erro ao ser ouvido na 64ª DP (São João de Meriti), a paciente disse que o tempo dirá com quem está a razão.
— Vamos aguardar. Não tem como não ter sido erro médico. Está claro isso — apontou.
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Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde informou que Alessandra tinha 17 miomas e que seu caso era muito grave. Ela passou por cinco cirurgias, e a família foi informada sobre a necessidade da amputação parcial do membro superior esquerdo a fim de preservar a sua vida. Leia, mais abaixo, a íntegra da nota da Secretaria.
A passista, que tem 1,83m de altura, está andando curvada e com dificuldade. Ela chegou ao hospital acompanhada da mãe, Ana Maria. Alessandra disse que não pretendia tornar público o seu caso, mas resolveu fazê-lo para encorajar outras pessoas que passam pela mesma situação.
— As pessoas precisam ter coragem para falar. Se todos fizerem isso, essa coisa vai acabar. Esse tipo de erro destrói sonhos e destrói vidas — disse.
A Secretaria de Estado de Saúde argumenta ainda que a equipe da ginecologia do Hospital da Mulher definiu “em conjunto com a paciente, esclarecendo prós e contras”, o procedimento necessário no caso. Essa versão é contestada por Alessandra:
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— Como disse o tempo todo que queria ser mãe, o médico disse que faria de tudo para preservá-lo. Perguntei se havia outro risco (além de perder o útero), mas ele alertou apenas que poderia haver sangramento. A única coisa que me disseram sobre risco foi isso. Agora, de perder o braço ninguém falou nada. Se disseram algo desse tipo é mentira. Não havia como dar complicação nenhuma porque não sou alérgica a medicamento nenhum — relatou Alessandra, que disse ter conversado com um único médico.
Segundo a passista, o único alerta que a ginecologista do hospital fez é de que ela estava com um mioma muito avantajado e isso ela já sabia. Por esse motivo estava querendo fazer a cirurgia. Contou ainda que todos os exames de risco cirúrgico foram feitos no Hospital da Mulher.
O Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) informou em nota que “abriu uma sindicância para apurar os fatos narrados” após tomar conhecimento do caso pela imprensa.
Da Agência O Globo