Dia da Música Gospel: Política, Fé e Conciliação?
No último dia 15, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que institui o dia 9 de junho como o “Dia Nacional da Música Gospel”. A cerimônia, que aconteceu no Palácio do Planalto, contou com a presença de Otoni de Paula (MDB-RJ), um deputado ligado à bancada evangélica e ex-aliado de Jair Bolsonaro (PL). Curiosamente, mesmo com a conhecida resistência da maior parte do segmento evangélico em relação ao governo Lula, o evento se destacou pela tentativa de conciliação entre política e fé.
Afinal, o que está em jogo? O reconhecimento do papel da música gospel na cultura brasileira ou um movimento estratégico de aproximação de Lula com os evangélicos? Vale lembrar que esse grupo apoiou majoritariamente Bolsonaro em 2022, o que torna a sanção da lei um jogo político interessante, ainda mais com a participação de Otoni, que chamou Lula de “meu presidente”, ressaltando sua liderança institucional, mesmo com divergências políticas.
A fala do deputado foi um show à parte: “Não somos gados ou jumentos”, disse, em uma tentativa clara de mostrar que os evangélicos não pertencem a nenhum espectro político fixo. Foi uma crítica sutil à polarização, mas também uma reafirmação de que os valores religiosos guiam esse público, acima das paixões partidárias.
O que chama a atenção é o tom de gratidão apresentado no discurso de Otoni ao mencionar as políticas sociais dos governos petistas, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Fica a pergunta: até que essas políticas visam conquistar o coração de uma população que, em sua maioria, optou por outro projeto político nas urnas? Estaria Lula plantando um semente de reconciliação com os evangélicos?
Enquanto isso, a música “Faz um Milagre em Mim” ecoou pelo Planalto, simbolizando uma tentativa de união de fé e governo em um país profundamente marcado pela religiosidade.