Petrobras diz ter comprovado 10 casos de assédio e importunação sexual entre 81 denúncias
Por Isabel Seta e Isabela Leite, g1 e GloboNews
A Petrobras diz ter comprovado 10 casos de assédio sexual e importunação sexual de um conjunto de 81 denúncias feitas entre 2019 e 2022.
Após a GloboNews mostrar dezenas desses relatos feitos por funcionárias da empresa, a Petrobras decidiu, em abril de 2023, promover um raio-x nos casos que foram levados à ouvidora a partir de 2019 –ano em que as apurações passaram a ser centralizadas pela ouvidoria.
Cerca de dois meses depois, a empresa afirma ter concluído a investigação de 80 casos –há uma apuração ainda não encerrada. Em dez casos, a empresa diz ter comprovado total ou parcialmente os fatos relatados — o equivalente a 12,34% do total de denúncias registradas na ouvidoria.
As informações foram obtidas com exclusividade pelo g1 por meio da Lei de Acesso à Informação e complementadas posteriormente com a assessoria de imprensa da Petrobras.
A estatal afirmou que cinco denúncias resultaram em demissão. Já os outros casos, a depender da gravidade dos fatos confirmados, acarretaram suspensões ou providências administrativas, como, por exemplo, afastar o assediador do convívio da vítima, com mudança de setor ou unidade.
Com sede no Rio de Janeiro, a empresa não informou onde ocorreram os casos.
Em abril, depois que a Globonews divulgou relatos de assédio e importunação feitos por funcionárias, a Petrobras prometeu diminuir de 180 para 60 dias o prazo para a conclusão da apuração das denúncias, além de centralizar a investigação na área de Integridade Corporativa e oferecer atendimento psicológico às vítimas. Ao g1, a Petrobras não informou quantas vítimas passaram a receber esse atendimento.
De abril até junho, a Petrobras contabilizou 4 novas denúncias de assédio (duas em 2023, uma em 2022 e outra sem ano identificado) e outras 11 denúncias de importunação sexual. Esses casos estão em apuração.
Segundo o diretor de governança da Petrobras, Mário Spinelli, “o assédio sexual envolve uma conscientização de todos os envolvidos, de todos os níveis da companhia” e que, por isso, tem sido um assunto muito debatido dentro da empresa.
Ele afirma que desde abril, o grupo de trabalho tem procurado criar um ambiente que acolha as vítimas e ofereça atendimento psicológico, mesmo que não seja feita uma denúncia.
Sobre o número de denúncias feitas aos canais de atendimento após as reportagens feitas pela GloboNews, Spinelli entende que as funcionárias se sentiram mais seguras para denunciar e que “parece evidente que exista uma procura maior pelo serviço” (veja mais abaixo a nota da Petrobras).
Segundo o Sindipetro-RJ apenas 17% do quadro de funcionários da empresa é composto por mulheres. Nas refinarias, a proporção é bem menor.
Entenda o caso
Em um grupo de WhatsApp, funcionárias da Petrobras relataram dezenas de episódios de assédio sexual cometido por colegas de trabalho e superiores hierárquicos quando estavam embarcadas em plataformas e também em outras unidades da empresa, como o Centro de Pesquisas (Cenpes).
As denúncias de assédio foram inicialmente reveladas por Ancelmo Gois, colunista do jornal “O Globo”. A GloboNews teve acesso a um compilado de 53 mensagens com relatos espontâneos de pessoas que foram vítimas dos abusos ou também testemunhas de agressões contra as trabalhadoras.
“A gente botava cadeira na porta à noite porque era proibido trancar… Uma amiga passou por uma situação bizarra. Chegou no camarote e tinha um cara mexendo nas calcinhas dela”, dizia uma das mensagens.
“A recepcionista da gerência que eu trabalhava teve o seio apalpado por um petroleiro, dentro da empresa. O caso virou o escândalo da gerência e todo mundo soube do caso, mas a chefia não fez nada. A moça foi transferida de área”, afirmava outro relato.
Em 2022, um petroleiro foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por assédio e importunação sexual contra uma mulher que prestava serviços à empresa. Uma investigação interna foi aberta pela ouvidoria, mas foi arquivada, sem punição, sob a alegação de falta de provas, apurou a GloboNews. Mas a estatal só demitiu o funcionário seis meses depois tomar conhecimento do caso e as denúncias feitas pela Promotoria.